
BIOMASSA E FLORÍSTICA EM FLORESTAS SECUNDÁRIAS DE
DIFERENTES IDADES
Marlete Moreira de Sousa Mendes¹, Maria Elizabete de Oliveira²
¹Bióloga, M.Sc, Depto. de Ciências do Solo, UFC, Fortaleza, CE, Brasil - mendes758@hotmail.com
²Agrônoma, Dra., Depto. de Zootecnia, UFPI, Teresina, PI, Brasil - maeliz@uol.com.br
Recebido para publicação: 17/11/2009 – Aceito para publicação: 17/05/2010
Resumo
Este trabalho foi desenvolvido no município de União, PI, localizado na região centro-norte do
estado, e tem como objetivo determinar a produção de biomassa e a composição florística em matas
secundárias com diferentes idades após o cultivo agrícola tradicional (um, três e cinco anos de pousio,
com dois tratamentos para cada idade). Para análise da vegetação, foram estabelecidas 20 parcelas em
cada idade de pousio. Para levantamento das espécies arbóreas/arbustivas, foram usadas parcelas com
25 m² e, dentro destas, subparcelas com 2,0 m² para as espécies herbáceas. Os resultados mostram
100 espécies ocorrentes nas áreas, sendo 42 de porte arbustivo/arbóreo e 58 herbáceas. As capoeiras
com um, três e cinco anos apresentaram, respectivamente, 3,4; 6,0 e 6,7 ton.ha-1 de massa seca.
Palavras-chave: Sucessão secundária; pousio; massa seca; levantamento florístico.
Abstract
Biomass production and floristic of secondary forests of different ages. This study was developed in
the Union county, localized in center-north region of the Piaui State, and aim to determine the
production of biomass and floristic composition of secondary forests with different ages after slash
and burn agriculture (one, three and five years-old regeneration stages, with two replicates). For
analysis of vegetation they were established 20 plots by each different age of fallow. Plots were used
with areas of 25.0 m2 by shrub/tree and, within these, subplots with 2.0 m² were allocated for the
herbaceous species. The results show that 100 species occur in the area, 42 shrubs and 58 herbaceous
species; the secondary forest with one, three and five years present total biomass of 3.4; 6.0 and 6.7
ton ha-1 of total dry mass per hectare, respectively.
Keywords: Secondary succession; fallow; dry mass; floristic survey; frequency.
INTRODUÇÃO
Em países tropicais, é grande o número de produtores que praticam a agricultura itinerante, cujo
preparo da terra envolve o corte e a queima da vegetação. Na sequência é feito o plantio na área
queimada, aproveitando-se os nutrientes disponíveis nas cinzas. Dois a três anos depois, os nutrientes
tornam-se escassos e as plantas invasoras tornam-se um problema. Os produtores, então, abandonam o
local por 10 a 20 anos, permitindo às espécies locais reflorestarem a área (sucessão secundária). Dessa
forma, é necessário desmatar e limpar outras áreas para realizar novos cultivos, repetindo o processo.
As florestas secundárias podem ser definidas como vegetação sucessional, que se regenera após
a vegetação inicial ter sido removida por ação antrópica (FAO, 2002). Tal vegetação provê uma
combinação de árvores, arbustos e ervas, sendo geralmente instável e apresentando estádios sucessionais.
Como a restauração da floresta ao seu estado original é muito difícil de ocorrer, a biomassa associada
com pastagens e florestas secundárias em desenvolvimento é sempre menor que a da floresta original
(BUSCHBACHER; UHL; SERRÃO, 1988).
O acúmulo de biomassa em florestas secundárias mostra um modelo de rápida acumulação em
até 15 a 20 anos de pousio, contudo a taxa de incremento de biomassa está inversamente relacionada com
o tempo de uso agrícola (HUGGES et al., 1992). Florestas secundárias em Porto Rico apresentam valores
de biomassa similares à floresta madura somente após 40 anos de pousio (AIDE et al., 2000). Por outro
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lado, estudos mostram o potencial para a rápida recuperação da diversidade de plantas lenhosas e da
estrutura em florestas secundárias adjacentes à floresta madura (MARTIN; SHERMAN; FAHEY, 2004).
Em florestas tropicais, a agricultura do tipo tradicional ou itinerante tem importante impacto
local sobre o ciclo de nutrientes, organismos no solo, sementes e tudo aquilo que possa ter efeitos na
qualidade do local e no reflorestamento (EWEL et al., 1980). No Nordeste do Brasil, informações sobre a
ecologia de florestas secundárias são escassas, todavia, dada a ocorrência de muitas áreas e em diferentes
ecossistemas, faz-se necessário gerar conhecimento sobre o assunto. Assim, este estudo objetiva
determinar a composição florística da vegetação e quantificar a biomassa a ela associada, em áreas
utilizadas pela agricultura itinerante com diferentes idades. Nossa hipótese é que a biomassa aumenta
linearmente até cinco anos e que a composição florística aumenta em riqueza de espécies com o aumento
do pousio.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
Este estudo foi desenvolvido no ano 2003, a 56 km da capital (Teresina), na área rural do
município de União, localizado na região subúmida do Piauí, Brasil (04º35’09” S, 42º51’51” W)
(Figura 1). A localidade apresenta duas estações principais: uma chuvosa, de dezembro a maio, e outra
seca, de junho a novembro, com média anual de precipitação de 1400 mm e média anual de temperatura
variando entre 36 ºC (máxima) e 21 ºC (mínima). A região é predominantemente plana, com altitude de
78 a 65 m acima do nível do mar (LIMA, 1982). Os solos são podzólicos (EMBRAPA/SUDENE/DRH,
1993), com pH variando de 5,3 a 5,7 (acidez média). Os níveis de alumínio são baixos. A vegetação
apresenta fisionomia de Floresta Secundária Mista associada com palmeiras de babaçu (CODEVASF,
2006).
Figura 1. Localização da área de estudo.
Figure 1. Location of the study area.
Quantificação da biomassa e levantamento florístico
Foram escolhidas duas áreas com um, três e cinco anos após uso agrícola, situadas nas
localidades Pedra de Fogo e Caraúba, região Nordeste do município. Cada idade da capoeira, que
corresponde à idade de rebrota, foi considerada como um tratamento. Foram demarcadas 10 parcelas por
tratamento, usando estacas e cordão plástico, medindo cada uma 5 x 5 m para árvores/arbustos (acima de
um metro de altura) e, dentro destas, parcelas de 1 x 2 m, para espécies subarbustivas e herbáceas (até um
metro de altura). As parcelas foram separadas à distância de, aproximadamente, 10 metros uma da outra,
em uma sequência diagonal nas áreas escolhidas.
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Em cada parcela, as plantas dos dois estratos foram cortadas ao nível do solo e pesadas, para se
obter o peso total. Amostras foram separadas para pré-secagem, duas para arbustos/árvores e uma mista
para as herbáceas. Estas foram pesadas, para se obter a massa total. As amostras foram conduzidas ao
laboratório do Centro de Ciências Agrícolas da Universidade Federal do Piauí, retiradas da estufa após 72
horas a 70 ºC e pesadas novamente, para determinação da massa seca. A disponibilidade de massa seca
foi analisada através de delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos e 20 repetições. As
médias foram testadas ao nível de 5% de probabilidade, através do teste SNK (Kruskal-Wallis).
Foram retiradas amostras da vegetação existente nas parcelas para identificação, usando-se
literatura especializada e por comparação com espécimes do Herbário Graziela Barroso (TEGB), da
Universidade Federal do Piauí. Os dados e materiais foram coletados durante a estação chuvosa (março e
abril), quando as plantas tinham mais folhas, uma vez que muitas delas são decíduas na estação seca.
Para o cálculo da similaridade, foi usada a fórmula: IS = 2.c/a + b, onde IS representa o Índice de
Similaridade de Sörensen, ‘a’ e ‘b’ as idades de pousio 1 e 2, respectivamente, e ‘c’ é o número de
espécies comuns nas duas áreas. O índice varia de zero a um. Valores próximos a um indicam alta
similaridade entre as áreas. Para calcular a frequência relativa (percentual de parcelas em que as espécies
foram encontradas em cada capoeira), foi usada a fórmula FR = (p ÷ n) x 100, onde p é o número de
parcelas ocupadas pela espécie e n é o número total de parcelas instaladas. Para verificar se há correlação
positiva entre idade da capoeira (variável independente) e produção de biomassa (variável dependente),
foi feita regressão linear. O mesmo foi feito para correlacionar idade da capoeira (variável independente)
e riqueza de espécies (variável dependente).
RESULTADOS
Produção de biomassa
A massa seca das plantas herbáceas decresce com o aumento da idade da capoeira, partindo de
valores próximos a 1000 kg.ha-1 nas áreas com um ano de pousio, para menos de 600 kg.ha-1 nas
capoeiras de cinco anos. Todavia a biomassa arbustiva aumentou com a idade do pousio, produzindo
cerca de 2400 kg.ha-1 com um ano para mais de 6100 kg.ha-1 aos cinco anos. A massa seca total (ervas +
arbustos) seguiu a mesma tendência da massa seca arbustiva, indo de valores próximos a 3.400 kg.ha-1
para mais de 6.700 kg.ha-1, conforme aumentam os anos de pousio (Figura 2).
Figura 2. Massa seca total, arbustiva e herbácea em florestas secundárias de diferentes idades.
Figure 2. Total, shrubs and herbs dry mass in secondary forest of different ages.
A produção de massa seca total diferiu entre as capoeiras com um e três anos (p = 0,0061) e
entre um e cinco anos (p = 0,0474), mas não entre as capoeiras de três e cinco anos (p = 0,4470), pelo
teste Kruskal-Wallis. Os valores de massa seca nas três capoeiras apresentam tendência de aumento com
a idade (Figura 3).
Ervas
Arbustos
Total
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Idade da Capoeira
Figura 3. Relação entre idade de capoeira e produção de massa seca total em florestas secundárias de
diferentes idades.
Figure 3. Relation between age of farmyard and production of total dry mass in secondary forest of
different ages.
Levantamento florístico
Foram encontradas 100 espécies vegetais, sendo 42 arbustivas e 58 herbáceas, cuja distribuição
está apresentada na figura 4. Desse total, 28 espécies são comuns às três áreas. O Índice de Similaridade
de Sörensen (IS) mostra similaridade média entre as amostras: 0.64 entre um e três anos e 0.60 entre as
capoeiras com três e cinco anos de pousio. As espécies amostradas estão distribuídas em 38 famílias,
sendo que as que apresentaram maior número de espécies foram Fabaceae (15 espécies), Poaceae (nove),
Euphorbiaceae (sete), Cyperaceae (seis), Malvaceae e Rubiaceae (cinco cada), Amaranthaceae,
Convolvulaceae, Lamiaceae, Lythraceae e Myrtaceae (três cada). As demais famílias apresentaram uma
ou duas espécies.
Figura 4. Número de espécies (ervas, arbustos e total) em florestas com diferentes idades de pousio.
Figure 4. Number of species (herbs, shrub and total) in forests with different ages of fallow.
As espécies arbustivas e herbáceas com maior frequência relativa, considerando as capoeiras
separadamente e uma média das três idades, estão na tabela 1. Dentre as arbustivas, Senna alata (L.)
Roxb. é a espécie com maior frequência, estando presente nas três capoeiras, em 80% das parcelas da
capoeira com três anos de pousio e, em média, ocupando 51,6% do total de parcelas. Dentre as herbáceas,
Sida sp. é a espécie mais comum, estando presente em quase 100% das parcelas na capoeira com um ano
e ocupando, em média, 73% do total de parcelas. As ciperáceas e gramíneas (Cyperaceae e Poaceae)
R² = 0,65
p = 0,025
Herbáceas
Arbustivas
Total
Massa seca (Kg ha-1)
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diminuíram o número de espécies entre as capoeiras com um e cinco anos de pousio. A riqueza das
espécies arbustivas, em relação à idade da capoeira, ajustou-se a um modelo linear (Figura 5), diminuindo
com o aumento da idade de pousio.
Tabela 1. Lista das espécies arbustivas e herbáceas mais frequentes em capoeiras com diferentes idades.
Table 1. List of shrubs and herbaceous most frequent in secondary forest of different ages.
Família Espécie
Frequência Relativa (%)
1 Hábito
ano
3
anos
5
anos Média
Amaranthaceae Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze 18,0 7,0 10,0 11,7 Herbáceo
Arecaceae Orbignia phalerata Mart. 55,0 50,0 5,0 36,7 Arbustivo
Combretaceae Combretum leprosum Mart. 25,0 25,0 30,0 26,7 Arbustivo
Convolvulaceae Ipomoea bahiensis Willd. ex Roem. & Schult. 17,0 14,0 14,0 15,0 Herbáceo
Cyperaceae Cyperus diffusus Vahl 45,0 7,0 7,0 19,7 Herbáceo
Euphorbiaceae Croton sonderianus Müll. Arg. 45,0 25,0 30,0 33,3 Arbustivo
Phyllantus niruri L. 45,0 35,0 10,0 30,0 Herbáceo
Fabaceae Bauhinia forficata Link 25,0 15,0 35,0 25,0 Arbustivo
Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke 15,0 50,0 50,0 38,3 Arbustivo
Mimosa pudica L. 67,0 14,0 14,0 31,7 Herbáceo
Senna alata (L.) Roxb. 50,0 85,0 20,0 51,6 Arbustivo
Senna obtusifolia (L.) H.S. Irwin & Barneby 33,0 28,0 43,0 34,7 Herbáceo
Lamiaceae Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze 17,0 14,0 28,0 19,7 Herbáceo
Lythraceae Cuphea calophylla Cham. & Schltdl. 14,0 21,0 24,0 19,7 Herbáceo
Malvaceae Sida sp. 95,0 50,0 75,0 73,3 Herbáceo
Myrtaceae Campomanesia sp. 15,0 75,0 50,0 46,7 Arbustivo
Myrtus communis L. 35,0 5,0 35,0 25,0 Arbustivo
Oxalidaceae Oxalis diffusa Pohl ex Progel 25,0 7,0 17,0 16,3 Herbáceo
Poaceae Brachiaria fasciculata (Sw.) Parodi 45,0 35,0 17,0 32,3 Herbáceo
Panicum laxum Sw. 45,0 14,0 21,0 26,7 Herbáceo
Figura 5. Riqueza de espécies em capoeiras com um, três e cinco anos de pousio.
Figure 5. Species richness in secondary forest with one, three and five years of fallow.
DISCUSSÃO
A massa seca das plantas herbáceas diminui com o aumento da idade de pousio, provavelmente
devido à diminuição de espécies e espécimes herbáceos. Com o crescimento dos arbustos, aumenta o
sombreamento sobre as ervas, impedindo o seu desenvolvimento. Cheung (2006) observou, em áreas
usadas para pastagem na Floresta Atlântica, o aumento na biomassa herbácea após o abandono, seguido
R2 = 0,99
p < 0,05
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pela diminuição ao longo do tempo. Em regiões semiáridas, os resultados são similares, com a biomassa
herbácea diminuindo à medida que aumenta o pousio (BEHERA; MISRA, 2006).
O acúmulo de fitomasssa do estrato lenhoso é maior no intervalo entre um e três anos,
observando-se um aumento superior a 100%. A diferença de acúmulo entre os anos três e cinco é apenas
de 703 kg, correspondendo a um aumento de 11%. Esses resultados podem estar associados a uma maior
densidade das plantas por área, o que resulta em aumento de competição por água, luz e nutrientes, com
redução da produção de biomassa (BRIENZA-JÚNIOR, 1999). Cardoso et al. (2000) afirmam que, com o
aumento de queimadas na área, diminui a quantidade de biomassa, pois uma área preparada para o cultivo
com o uso do fogo apresenta até 36% a menos de biomassa quando comparada a uma em que não houve
utilização de fogo. Esse valor pode subir para 50% se houver uma segunda queimada na área.
Nas capoeiras de matas de babaçu, a produção de biomassa foi inferior à encontrada por
pesquisadores em outras regiões do país. Nunez (1995) observou produção de 22 toneladas de massa
verde em capoeiras de quatro anos de idade na Amazônia, enquanto Vielhauer et al. (1998) observaram,
também na Amazônia, uma produção de nove toneladas de massa seca em capoeiras com 12 meses de
pousio. Nas capoeiras aqui estudadas, aos cinco anos a produção por hectare de matéria verde é cerca de
12 toneladas, e a de matéria seca é, em média, de seis toneladas. Convém ressaltar que as capoeiras objeto
deste trabalho estão abertas ao pastejo por animais, geralmente em situação de altas lotações, o que deve
resultar em uma redução de biomassa. Considerando ainda a Amazônia como área de estudo, nota-se que
a vegetação secundária se restabelece bem em até sete anos (GAMA et al., 2002), enquanto que em mata
de babaçu são necessários mais anos para que a vegetação assemelhe-se à original.
Neste trabalho, a tendência foi de queda da riqueza de espécies com a distância do distúrbio.
Partindo de 65 espécies (entre herbáceas e arbustivas/arbóreas) em capoeiras com um ano de pousio para
52 espécies aos cinco anos (Figura 3), a principal baixa ocorreu entre as ervas. Resultados semelhantes
foram observados na Amazônia, com maior número de espécies nos anos iniciais da sucessão e um menor
número aos 40 anos (FERREIRA; PRANCE, 1999). De acordo com Cheung (2006), quanto maior o
tempo pós-distúrbio, maior seria também a diversidade da área se a trajetória sucessional esperada fosse
sempre um padrão gradual de incremento de espécies. Sampaio et al. (1998) confirmam que há
diminuição do número de espécimes vegetais em Caatinga quando se utiliza o corte seguido de queima,
sendo que menos de 50% rebrotam num período de até dois meses. Todavia, estudos sugerem que o fogo
pode acelerar o desenvolvimento de algumas espécies vegetais (BREWER et al., 2009) ou não ter
impacto negativo sobre a quantidade de nutrientes disponíveis (VOURLITIS; PASQUINI, 2008).
Capitanio; Carcaillet (2008) observaram que a riqueza nos dois anos seguintes ao incêndio apresenta os
maiores valores, mas são semelhantes aos valores para áreas com até 30 anos após o fogo, e que a
diversidade de espécies vegetais assume valores semelhantes entre a floresta com dois anos de pousio e
uma área sem manejo há 80 anos.
Ceccon et al. (2002) assinalam que algumas propriedades do solo podem afetar o número de
indivíduos e a riqueza de espécies das comunidades de árvores e de plântulas. De acordo com Armesto;
Pickett (1985), há uma relação direta entre a intensidade do distúrbio causado pela agricultura e a riqueza
de espécies: quanto maior o distúrbio causado, menor a riqueza de espécies.
Os resultados sugerem que a resiliência de capoeiras em matas de babaçu é baixa em
comparação com outros ecossistemas. Todavia mais pesquisas são necessárias sobre sucessão secundária
nesse ecossistema que possam precisar o tempo para restaurar a floresta. Os efeitos do fogo sobre a
vegetação permanecem incertos e, para quantificar as perdas pela agricultura de broca-e-queima sobre a
diversidade e produção de matéria orgânica, são necessárias pesquisas usando uma área de floresta
intacta, cujos resultados possam ser comparados com os valores aqui apresentados. Conclui-se que, aos
cinco anos, a biomassa ainda é baixa, sendo necessário mais tempo para restaurar a floresta, uma vez que
a biomassa dirige a cronossequência de aumento no estoque de carbono no ecossistema (KIYONO et al.,
2007), necessário ao desenvolvimento da vegetação.
CONCLUSÃO
A biomassa e diversidade vegetal apresentam baixos valores em cinco anos de pousio. A riqueza
de espécies diminui com o aumento do pousio e o aumento da biomassa total é principalmente em função
da arbustiva, uma vez que ocorre diminuição na biomassa herbácea. Essa pesquisa mostra que tais
atributos, essenciais à recuperação de uma área que foi desmatada e submetida à queima, ainda estão em
déficit aos cinco anos de pousio, sendo, assim, necessário mais tempo para que a área esteja recuperada.
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